Esqueçamos pois o provincianismo que nos faz ter inveja dos projetos grandiosos, para buscar a eficácia e simplicidade da refinaria, que não é mini, mas é pequena sim e não precisa ter vergonha desse fato. Só que, mesmo pequena, é um grande negócio e terá muito a contribuir com o desenvolvimento de Sergipe.
José de Oliveira Júnior
Para entender porque a instalação de uma refinaria privada em Sergipe é fato significativo, precisamos recuperar alguns dados sobre o mercado brasileiro de refino de petróleo, cuja marca principal é a enorme concentração da atividade pela Petrobras, herança marcante do monopólio estatal recente.
Cito trecho de um estudo da ANP para resumir o fato, sobejamente conhecido entre os que estudam o setor: "Atualmente, o Brasil possui 17 refinarias de petróleo em operação, sendo que 13 delas são pertencentes à Petrobras. As 4 refinarias não pertencentes a Petrobras - Dax Oil (BA), Manguinhos (RJ), Rio Grandense (RS) e Univen (SP) - possuem uma capacidade de processamento e refino de petróleo muito inferior do que as refinarias da Petrobras. A título de exemplificação, apenas a Reduc (RJ) processa em média, um volume de petróleo 20 vezes maior do que Refinaria de Manguinhos.”
ALTA CONCENTRAÇÃO E PRESENÇA ESTATAL
Esses números falam por sí: dezessete refinarias é pouco para se alcançar as dimensões continentais do país. E também revelam o peso enorme da Petrobras no setor, empresa que, por sua vez, sempre deu preferencia a enormes plantas de refino, única maneira de atingir a escala de produção necessária para o gigantismo das suas operações.
Esses números falam por sí: dezessete refinarias é pouco para se alcançar as dimensões continentais do país. E também revelam o peso enorme da Petrobras no setor, empresa que, por sua vez, sempre deu preferencia a enormes plantas de refino, única maneira de atingir a escala de produção necessária para o gigantismo das suas operações.
Esse gigantismo e sua vinculação ao governo cria dificuldades singulares, que precisam ser compreendidas. Podemos resumi-las no seguinte: como estatal, a Petrobras tem dificuldades para concluir na velocidade necessária obras de infra-estrutura, imprescindíveis para grandes refinarias; além disso, suas inesgotáveis necessidades de capital para dar conta da a magnitude dos investimentos necessários nos mercados da exploração do petróleo, refino e do gás natural, incluído pré-sal, tornam imprescindível a participação privada na mobilização financeira.
E, por fim, as políticas de preços de combustíveis fazem com que a margem de rentabilidade seja inferior à desejada, comprometendo em especial o negocio do refino. Vejamos exemplos para ilustrar esses pontos.
Quanto à dificuldade para os investimentos, veja-se o caso da ainda inconclusa Refinaria Abreu e Lima, ou Renest, em Pernambuco: Ela custará cerca de 30 bilhões de reais, e já contabiliza alguns anos de atraso em relação à previsão inicial de execução, um significativo múltiplo do investimento inicial anunciado. O prazo de entrega foi postergado por diversas vezes, e só deverá operar de fato em 2016.
Mas mesmo com esses problemas, foram 30 anos de espera entre a última refinaria construída e a fase atual deste empreendimento….
Fora do contexto Petrobras, a refinaria privada mais próxima de Sergipe, e que por sinal utiliza petróleo sergipano como insumo, é a Dax Oil, na Bahia, com capacidade de refino de apenas 2,5 mil barris dia e investimento na construção de somente 20 milhões de reais. Pelos números apresentados, a refinaria sergipana terá, já no seu primeiro módulo, o dobro da capacidade de processamento da sua co-irmã baiana, e os investimentos serão pelo menos seis vezes maiores por conta da diversidade de produtos do refino e condições de operação projetadas para a planta.
Como se vê, a adjetivação do porte dos empreendimentos, sem compreensão de como funciona o ramo de atividade no Brasil, confunde mais que esclarece as especifidades do mercado nacional de refino.
PLANO DE NEGÓCIOS PETROBRAS
Indo um pouco mais longe nos dados do mercado de refino brasileiro, é importante verificar que a Petrobras já dimensionou no seu Plano de Negócios para 2013-2017 o tamanho da sua parcela para o mercado de refino, e a cifra é de impressionantes mas insuficientes 30 bilhões de dólares. Ora, a mobilização desse volume de dinheiro para bancar a magnitude do seu plano de negócios (repito, impressionante mas insuficiente) não deixa espaço para investimento do porte de uma outra megarefinaria, além da conclusão de Pernambuco e das projetadas para Maranhão e Ceará, se tanto.
Indo um pouco mais longe nos dados do mercado de refino brasileiro, é importante verificar que a Petrobras já dimensionou no seu Plano de Negócios para 2013-2017 o tamanho da sua parcela para o mercado de refino, e a cifra é de impressionantes mas insuficientes 30 bilhões de dólares. Ora, a mobilização desse volume de dinheiro para bancar a magnitude do seu plano de negócios (repito, impressionante mas insuficiente) não deixa espaço para investimento do porte de uma outra megarefinaria, além da conclusão de Pernambuco e das projetadas para Maranhão e Ceará, se tanto.
Até porque, a aqui vai outro problema, dos mais relevantes para os acionistas da Petrobras: a empresa obtém margens de lucros menores no segmento de refino que na produção do petróleo. Assim, seu plano de negócios, para ser mais lucrativo, deveria se concentrar mais na atividade exploratória.
Veja-se que, para obter recursos, a Petrobras vai se desfazer das suas refinarias no exterior, como difundido pela imprensa.
E é exatamente na produção de petróleo que o Estado de Sergipe pode atrair maior quantidade de investimentos da estatal para Sergipe. Nossas reservas estimadas eram de apenas meio bilhões de barris, mas esse número será revisto nos próximos anos com as descobertas em águas profundas, podendo quadruplicar. Assim, o principal objetivo do Estado junto à Petrobras deve ser garantir e ampliar a produção dos novos poços, o que é um volume de investimentos bastante significativo para a nossa economia.
E o refino? Os últimos três anos mostram uma piora acentuada nas condições de importação da gasolina afetando grandemente a balança comercial. Todas as refinarias brasileiras estão operando no pico de produção, o que ainda assim é insuficiente para o consumo atual. Os preços, como se sabem, criam um enorme dilema para a Petrobras, pois não remuneram adequadamente o investimento. E as condições de projetar e construir esbarram nas conhecidas dificuldades brasileiras com a implantação de grandes empreendimentos construtivos.
Assim, plantas menores, mais próximas ao mercado consumidor, capazes de reduzir o custo logístico e os desperdícios da operação na escala Petrobras, podem ser capazes de preencher uma lacuna importante no mercado e assegurar lucratividade ao segmento.
Essa é a aposta que os empreendedores querem fazer. É essa aposta que, felizmente, teve lugar agora em Sergipe.
Esqueçamos pois o provincianismo que nos faz ter inveja dos projetos grandiosos, para buscar a eficácia e simplicidade da refinaria, que não é mini, mas é pequena sim e não precisa ter vergonha desse fato. Só que, mesmo pequena, é um grande negócio e terá muito a contribuir com o desenvolvimento de Sergipe.
1 ANP, Nota Técnica Conjunta número 01/2013-CDC-SRP, "ANÁLISE DO PARECER ANALÍTICO DE REGRAS REGULATÓRIAS No 20/COGEN/SEAE/MF”, DE MAIO DE 2012. Disponível em http://www.brasil-rounds.gov.br/arquivos/Notas_tecnicas/68120.pdf, consultado em janeiro, 2014.
2 Ver também o estudo de Greco e Romão, Refinarias, disponível em http://pt.slideshare.net/mgreco66/refinarias-brasileiras-15660409, consultado em janeiro de 2014.
3 Veja venda de ativos na Argentina em http://www.onip.org.br/noticias/sintese/petrobras-vai-vender-ativos-de-petroleo-na-argentina/ e diversas notícias similares sobre outros ativos da empresa no exterior.
4 Em http://achadoseconomicos.blogosfera.uol.com.br/2013/09/11/importacao-de-gasolina-aumenta-42-mil-vezes-em-tres-anos/, consultado em janeiro de 2014, um estudo com dados obre a importação do petróleo e seus efeitos na balança comercial brasileira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário