O blog SóSergipe publica debate sobre PPP
As Parcerias Público Privadas (PPP) são definidas na literatura internacional como um contrato de longo prazo entre um governo, seja ele federal, estadual ou municipal, com uma entidade privada que se compromete a oferecer serviços de infraestrutura. Essa definição, longe de parecer simplória, divide opiniões. O sindicalista Waldir Rodrigues, vice-presidente em Sergipe da Confederação dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB/SE) vice-presidente em Sergipe da Federação Interestadual dos Servidores Públicos Estaduais e Municipais (Fesempre), diz que essa é condenável, bancada pelo próprio Estado. Mas para o economista e consultor José de Oliveira Júnior, que participa do PPP de Sergipe, elas permitem, de uma só vez: buscar crédito através dos parceiros privados, que assim agregam capacidade de investimento que, sozinha, a empresa pública não teria.
E você, de que lado está?
Acompanhe a publicação original no link: http://www.sosergipe.com.br/debate-parcerias-publico-privadas/.
Aqui, reproduzimos o artigo de autoria de Oliveira Júnior:
PPP: alternativa para melhores serviços públicos
José de Oliveira JúniorEconomista, consultor, participa do Programa de PPP do Estado de Sergipe
O exame dos méritos das parcerias
público privadas, PPP, como forma de modernização da prestação de
serviços públicos ao cidadão, tem sido prejudicado no Brasil por um
debate recorrentemente pobre. Parte dessa dificuldade é intrínseca ao
processo: PPP pressupõe operações financeiras estruturadas, avaliação de
riscos, projetos financeiros de certa complexidade e uma estrutura de
garantias jurídicas bastante sofisticada. Temas áridos portanto para o
debate político e superficial que infelizmente domina a cena política.
Mas a maior parte desta incompreensão
decorre de um confronto ideológico. Fortes interesses eleitoreiros e
corporativos preferem confundir a opinião pública com o uso de conceitos
simplistas que reduzem tercerizações, concessões, privatizações e PPPs à
mesma coisa, baseados na limitada idéia de que, sendo objeto de
interesse do capital, todos esses instrumentos servem apenas para gerar
lucros e reduzir o poder do Estado. Assim, parece bacana ser contra tudo
isso achando que se está defendendo o Estado e
lutando quixotescamente contra o capital … e, afinal, entender como
funcionam esses instrumentos é coisa de tecnocrata, e indigna de atenção
séria.
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Oliveira Jr. defende PPP |
Passa desapercebido a essas pessoas que o
que mais reduz a confiança nos entes estatais hoje é justamente a
incapacidade de prover serviços públicos eficiente em qualidade e preço.
Na contramão do simplismo, acho que as PPP são ferramentas de
contratação extremamente importantes para o setor público. E como
ferramentas que são, é claro que tanto podem ser benéficas como mal
utilizadas. Mas é inegável que trazem métodos eficazes, que podem fazer a
população se beneficiar de práticas modernas de contratação, gestão de
riscos, financiamento e introdução de melhorias tecnológicas e de gestão
no serviço público.
Isso é tanto mais importante no Brasil
porque em nosso país a gestão pública está completamente amarrada por
um marco regulatório anacrônico, que quase inviabiliza práticas de
excelência na gestão. Praticamente em todas as áreas importantes para a
eficiência das empresas públicas, como, só para um rápido exemplo: i)
recursos humanos (limitada nas formas de ingresso, desenvolvimento de
carreiras, qualificação, meritocracia, desigualdades salariais e de
vantagens nas gratificações e na previdência, produtividade, isonomia
salarial e inadequada garantia de estabilidade no emprego público em
flagrante contradição com a precariedade dos empregos privados), ii)
contratações de bens e serviços, limitados pela anacrônica Lei 8.666,
limitados a uma fiscalização formal hipertrofiada face a uma verdadeira
displicência na gestão dos contratos e garantia de qualidade no
fornecimento dos bens e serviços posterior ao rigor dos processos
licitatórios; iiic) graves limitações ao financiamento (o Estado brasileiro
só acessa crédito para investimentos em obras físicas, e os
Governadores precisam cingir seus programas à oferta dos agentes
financiadores e do orçamento da União, que dessa maneira limitam
extraordinariamente a ação dos Estados e municípios); iv) completa
inviabilidade de gestão moderna de riscos e acesso a inovações
tecnológicas; v) ciclos políticos muito curtos que impedem o
amadurecimento de boas práticas corporativas pela ingerência política na
gestão empresarial, … e ainda haveria um alfabeto inteiro de exemplos.
Veja que não se trata de achar que a
gestão privada é boa e a gestão pública é ruim, por alguma razão
intrínseca ou questão de fé. Eu, por exemplo, defendo a gestão pública e
sou contra a privatização de serviços essenciais. Acho que o Estado não
pode abrir mão de uma estrutura forte para a gestão dos serviços
públicos, inclusive operacionalizando-os diretamente sempre que puder
fazê-lo de forma eficiente, e isso significa a um custo que o
cidadão possa pagar, sabendo que é mais barato ou melhor que uma
alternativa privada.
Em atividades como o fornecimento de
serviços de água e esgoto, acho que precisamos de empresas estatais
eficientes. Como sergipano, não abro mão da DESO, e vi com orgulho como a
empresa superou o recente problema da quebra da adutora no Ponte de
Pedra Branca. E acho que, mesmo diante das dificuldades estruturais já
apontadas, muitas empresas públicas conseguem níveis satisfatórios de
resolutividade no atendimento ao consumidor, muitas vezes graças ao
empenho de dirigentes e servidores de alto grau de comprometimento
público.
Mas adicionar a essas regras a inovação
tecnológica, capacidade financeira e a expertise de parceiros privados –
mesmo levando em conta que eles buscam oportunidades de lucro, não
de filantropia – significa aumentar a eficiência da gestão pública, e
não descaracterizá-la.
No caso dos serviços de água e esgoto –
em Sergipe, a nossa DESO e também os serviços municipais em algumas
cidades – lembro que metade da população brasileira, ou mais, não acessa
serviços de esgotamento sanitário. E esse problema só se resolve com
investimentos altos, que o aporte público sozinho não poderá resolver em
prazos de tempo razoáveis. Basta ver que nenhuma concessionária no
Brasil pode bancar os investimentos de expansão das redes de água e
esgoto sozinhas, a não ser que pratiquem preços muito mais altos que os
atuais e inviáveis para a população pobre.
PPP então permitem, de uma só vez:
buscar crédito através dos parceiros privados, que assim agregam
capacidade de investimento que, sozinha, a empresa pública não teria;
viabilizar a introdução de métodos e técnicas inovadoras; beneficiar-se
da gestão privada, no que for mais eficaz para o desenvolvimento dos
serviços, permitindo à empresa pública focar seus objetivos sociais, e
evitar dispersão, delegando as atividades complementares à sua ação.
Isso pode perfeitamente ser feito sem demitir pessoal das empresas, sem
privatizar nada, sem reduzir a presença dessas estatais junto à
população. Pode, ao contrário, ser um instrumento de melhoria da sua
imagem perante o consumidor, que vai saber reconhecer imediatamente a
melhoria da qualidade na prestação de serviços.
O potencial desses instrumentos é
imenso. Vale lembrar o exemplo atual do Rio de Janeiro. Lá, foi
utilizado um instrumento introduzido há poucos anos no Brasil pelo
Estatuto das Cidades: trata-se do CEPAC – Certificados de Potencial
Adicional de Construção, que são valores mobiliários emitidos pelas
Prefeituras. Esses títulos são utilizados como meio de pagamento para a
outorga do chamado Direito Urbanístico Adicional. É um instrumento
financeiro, que no caso do Rio foi transformado pela Caixa Econômica
Federal em um fundo capaz de financiar operações de PP dentro do projeto
chamado de Porto Maravilha.
Ou seja, um instrumento financeiro é
capaz de “trazer”o futuro para os dias atuais, através de um título
financeiro que assim pode garantir investimentos privados, realizados
agora, no momento presente. Avaliados devidamente os riscos,
instituições financeiras trazem a valor presente esses títulos e
financiam as obras de melhorias dos serviços urbanos que a Prefeitura do
Rio oferece. É como se o sistema financeiro permitisse precificar hoje,
para viabilizar os investimentos necessários, os enormes benefícios que
a cidade poderá auferir em um prazo de duas a três décadas.
Não há dúvida que isso permite a oferta
de serviços à população que, pelos mecanismos tradicionais de
contratação de serviços seria impossível oferecer.
Esse é um belo exemplo, dentre muitos
(ainda que existam também exemplos de mau uso de PPP no Brasil). PPP
podem fazer com que as empresas estatais ofereçam serviços melhores à
população, continuando estatais, mas operando a um custo menor e
ampliando a ofertando serviços muito mais rapidamente. Assim, PPPs valem
à pena, ainda que careçam, como qualquer outro instrumento complexo de
gestão, ser devidamente analisadas e cuidadosamente implementadas. E,
bem feitas, em nada ferem os interesses dos servidores públicos ou da
população, beneficiando a própria empresa e os os consumidores dos
serviços.